Atrever-me-ia a afirmar que a cidade do Porto soube marcar a diferença ao longo dos tempos. Não raras vezes se destacou pelo carácter inovador de algumas das suas infraestruturas e/ou opções estratégicas (assumidas, designadamente, no quadro da sua atividade económica, social e política).
Neste contexto, uma modalidade desportiva em ascensão no decorrer do século XIX - o ciclismo - particularmente do agrado de determinadas elites sociais do meio urbano europeu (e, consequentemente, nacional) viria a induzir a criação, numa área privilegiada da cidade do Porto, de um espaço especialmente concebido para a sua prática regular. Nascia assim, no ano de 1894, na Quinta do Paço - propriedade então pertencente ao Rei D. Carlos e que incluía o "Palácio dos Carrancas" (detentor do estatuto de Paço Real) - aquele que viria a ser designado por Velódromo Maria Amélia, honrando a figura da Rainha D. Maria Amélia de Orleães, consorte do monarca reinante. O acesso ao mesmo fazia-se pela Rua de Adolfo Casais Monteiro (antiga Rua do Pombal).
A pista de ciclismo aí concebida obedecia, à época, às regras internacionalmente impostas pela modalidade e na qual se percorria um quilómetro cumpridas três voltas à mesma. Uma volta completa dada à pista correspondia, pois, a rigorosos 333,33 metros de percurso.
O terreno em causa, como se referiu, foi doado pelo Rei D. Carlos ao prestigiado Velo Club do Porto, em 1893, antecipando as comemorações do V centenário do nascimento do Infante D. Henrique (n. 04.03.1394, Porto). O mesmo situava-se (e situa-se, ainda) nas traseiras de um magnífico imóvel neoclássico (cuja construção foi iniciada em 1795) que se encontrava na posse da Família Real desde o ano de 1861 e que viria a albergar, em 1940, o Museu Nacional de Soares dos Reis. Entre os anos de 1932 e 1939 a propriedade esteve na posse da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que a recebera na sequência da morte do antigo monarca, segundo a sua vontade.
Durante a primeira década do século XX, o Velódromo Maria Amélia destacou-se como o maior recinto desportivo da cidade do Porto, correspondendo às solicitações de um público diversificado e, sobretudo, entusiasta da modalidade. O espaço (dispondo originalmente de uma extensa bancada coberta e de três courts de ténis na sua área central) encerraria portas (em rigor, portões...) em 1910, na sequência da implantação da República e da ida do Rei D. Manuel II para o exílio.
Após várias décadas de relativa resiliência, o antigo velódromo veria ser comprometida a sua apreciável (apreciada?) integridade física, até então satisfatoriamente preservada, ainda que sem o "brilho" de outrora. Com efeito, no âmbito de uma intervenção arquitetónica aí realizada em 1992 - mediante projeto do Arq.º Fernando Távora - o Museu concretizaria a implantação de uma nova construção no local (anexa ao limite norte do edifício original), no intuito de, legitimamente, poder proporcionar um melhor serviço aos seus visitantes.
Em 2001, por sua vez, concluindo-se o projeto anteriormente iniciado, seriam ainda concretizadas duas outras construções, destinando-se a maior delas (possuidora de uma extensa fachada envidraçada), contígua ao edifício do Museu, a servir refeições ou a acolher reuniões, palestras ou festas. Intercetavam-se, assim, definitivamente, os segmentos retilíneos da antiga pista velocipédica. Restam relativamente intactos, "timidamente", os seus característicos topos curvos e em relevé, verdadeira "imagem de marca" de infraestruturas desta natureza. Como que, de certa forma, a evocar o passado nobre e singular da infraestrutura, pese embora manifestamente esquecido.
O espaço em causa corresponde, atualmente, ao Jardim da Cerca (do Palácio dos Carrancas), ou seja, a uma vasta área (ocasionalmente) utilizada para a realização de eventos e atividades diversas ao ar livre, sejam elas da iniciativa do Museu, sejam da responsabilidade de outras entidades que porventura a requisitem.
Ficam aqui algumas imagens do local, repleto de memórias do seu passado pouco conhecido, como que a sugerir uma "espreitadela" por parte dos mais curiosos...
Recomendo também, obviamente, uma visita "sem pressas" ao Museu, possuidor de coleções riquíssimas e diversificadas, bem como promotor de uma agenda ambiciosa, correspondendo aos gostos mais ecléticos.
Em jeito de comentário final, não posso deixar registar a incontornável dificuldade - também aqui evidenciada- no que concerne à compatibilização de interesses e sensibilidades várias associadas à transformação dos espaços.
Como em muitas outras situações (na vida), dever-se-á evitar adoção de posições eminentemente fundamentalistas, creio.
No caso vertente - de certa forma paradigmático, neste domínio - dever-se-á, sobretudo, confiar no bom senso, na competência e na capacidade de discernimento por parte da Direção do Museu.
Neste contexto, uma modalidade desportiva em ascensão no decorrer do século XIX - o ciclismo - particularmente do agrado de determinadas elites sociais do meio urbano europeu (e, consequentemente, nacional) viria a induzir a criação, numa área privilegiada da cidade do Porto, de um espaço especialmente concebido para a sua prática regular. Nascia assim, no ano de 1894, na Quinta do Paço - propriedade então pertencente ao Rei D. Carlos e que incluía o "Palácio dos Carrancas" (detentor do estatuto de Paço Real) - aquele que viria a ser designado por Velódromo Maria Amélia, honrando a figura da Rainha D. Maria Amélia de Orleães, consorte do monarca reinante. O acesso ao mesmo fazia-se pela Rua de Adolfo Casais Monteiro (antiga Rua do Pombal).
A pista de ciclismo aí concebida obedecia, à época, às regras internacionalmente impostas pela modalidade e na qual se percorria um quilómetro cumpridas três voltas à mesma. Uma volta completa dada à pista correspondia, pois, a rigorosos 333,33 metros de percurso.
O terreno em causa, como se referiu, foi doado pelo Rei D. Carlos ao prestigiado Velo Club do Porto, em 1893, antecipando as comemorações do V centenário do nascimento do Infante D. Henrique (n. 04.03.1394, Porto). O mesmo situava-se (e situa-se, ainda) nas traseiras de um magnífico imóvel neoclássico (cuja construção foi iniciada em 1795) que se encontrava na posse da Família Real desde o ano de 1861 e que viria a albergar, em 1940, o Museu Nacional de Soares dos Reis. Entre os anos de 1932 e 1939 a propriedade esteve na posse da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que a recebera na sequência da morte do antigo monarca, segundo a sua vontade.
Durante a primeira década do século XX, o Velódromo Maria Amélia destacou-se como o maior recinto desportivo da cidade do Porto, correspondendo às solicitações de um público diversificado e, sobretudo, entusiasta da modalidade. O espaço (dispondo originalmente de uma extensa bancada coberta e de três courts de ténis na sua área central) encerraria portas (em rigor, portões...) em 1910, na sequência da implantação da República e da ida do Rei D. Manuel II para o exílio.
Após várias décadas de relativa resiliência, o antigo velódromo veria ser comprometida a sua apreciável (apreciada?) integridade física, até então satisfatoriamente preservada, ainda que sem o "brilho" de outrora. Com efeito, no âmbito de uma intervenção arquitetónica aí realizada em 1992 - mediante projeto do Arq.º Fernando Távora - o Museu concretizaria a implantação de uma nova construção no local (anexa ao limite norte do edifício original), no intuito de, legitimamente, poder proporcionar um melhor serviço aos seus visitantes.
Em 2001, por sua vez, concluindo-se o projeto anteriormente iniciado, seriam ainda concretizadas duas outras construções, destinando-se a maior delas (possuidora de uma extensa fachada envidraçada), contígua ao edifício do Museu, a servir refeições ou a acolher reuniões, palestras ou festas. Intercetavam-se, assim, definitivamente, os segmentos retilíneos da antiga pista velocipédica. Restam relativamente intactos, "timidamente", os seus característicos topos curvos e em relevé, verdadeira "imagem de marca" de infraestruturas desta natureza. Como que, de certa forma, a evocar o passado nobre e singular da infraestrutura, pese embora manifestamente esquecido.
O espaço em causa corresponde, atualmente, ao Jardim da Cerca (do Palácio dos Carrancas), ou seja, a uma vasta área (ocasionalmente) utilizada para a realização de eventos e atividades diversas ao ar livre, sejam elas da iniciativa do Museu, sejam da responsabilidade de outras entidades que porventura a requisitem.
Ficam aqui algumas imagens do local, repleto de memórias do seu passado pouco conhecido, como que a sugerir uma "espreitadela" por parte dos mais curiosos...
Recomendo também, obviamente, uma visita "sem pressas" ao Museu, possuidor de coleções riquíssimas e diversificadas, bem como promotor de uma agenda ambiciosa, correspondendo aos gostos mais ecléticos.
Em jeito de comentário final, não posso deixar registar a incontornável dificuldade - também aqui evidenciada- no que concerne à compatibilização de interesses e sensibilidades várias associadas à transformação dos espaços.
Como em muitas outras situações (na vida), dever-se-á evitar adoção de posições eminentemente fundamentalistas, creio.
No caso vertente - de certa forma paradigmático, neste domínio - dever-se-á, sobretudo, confiar no bom senso, na competência e na capacidade de discernimento por parte da Direção do Museu.
Perspetiva do Átrio da Cerca, concebido no edifício inaugurado em 2001, obtida a partir do Jardim da Cerca (área central do antigo velódromo) |
Perspetiva do topo nascente da antiga pista velocipédica, identificando-se a respetiva curvatura em relevé, bem característica de estruturas desta natureza |
Perspetiva geral do topo nascente da antiga pista velocipédica. O pavimento, empedrado, resulta da intervenção arquitetónica de 2001 |
Perspetiva de uma secção retilínea (setor sul) da antiga pista velocipédica |
Marco em pedra granítica, gravado em baixo relevo, exposto no local, evocativo da fundação do Velo Club do Porto, em 1893 (imagem retirada de http://ovelocipedista.wordpress.com) |
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