Arte e Natureza no espaço urbano

Arte e Natureza no espaço urbano

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A casa mais invulgar da Avenida do Brasil (Nevogilde, Porto)

Perspetiva geral da Casa Manuelina
(Av. do Brasil, 777  4150-154 PORTO)
Desde há décadas que me perturba o facto de se encontrar em estado de abandono e acentuada degradação aquela que é, seguramente (para muitos, pelo menos), a casa mais invulgar da marginal atlântica portuense. E que pena é que assim seja. 
Este interessante exemplar de arquitetura civil, conhecido por diferentes designações - Casa do Relógio de Sol, Casa Manuelina ou, ainda, Palacete Manuelino - remonta aos inícios do século XX, marcados na historia local pelo crescente protagonismo e rápida expansão da Foz do Douro como uma das áreas mais privilegiadas e cobiçadas para fixação de residência por parte de algumas das famílias mais abastadas da burguesia portuense. 
Neste contexto, sob encomenda de Artur Jorge Guimarães, Capitão de Artilharia e conhecido republicano portuense, este imponente imóvel de quatro pisos seria aqui erguido (na então denominada Avenida de Carreiros) entre os anos de 1910 e 1911, nele se evidenciando numerosos elementos exteriores de cariz nacionalista e neomanuelino. 
O projeto da casa é atribuído ao arquiteto José Teixeira Lopes, filho de José Joaquim Teixeira Lopes e irmão de António Teixeira Lopes, ambos escultores de renome. 
A degradação do imóvel tem causas conhecidas, que apresentarei sucintamente: após ter ficado viúva, Beatriz Guimarães, esposa do Artur Guimarães, vai viver para fora do Porto, abandonando a casa (até então) do casal, a qual passa, posteriormente, para a posse dos seus herdeiros - uma filha e três netos; na sequência do 25 de abril de 1974, a casa foi ilegalmente ocupada por um sapateiro, o qual, sem quaisquer escrúpulos, viria a apropriar-se de todo o seu recheio; quando a família retomou a posse efetiva da casa (há mais de quinze anos), já a mesma se encontrava praticamente no estado atual e despida de tudo quanto havia no seu interior, entre elementos decorativos diversos e mobiliário de época; depois sucederam-se as intrusões por parte de toxicodependentes, sem-abrigo, "vândalos" de ocasião, etc. 
Subsiste o quadro que todos vemos, ao passarmos pelo n.º 777 da Avenida do Brasil. 
Nos últimos anos destaca-se a placa que anuncia a venda do imóvel. Não sei quanto custará o mesmo. Não deverá estar ao alcance de muitos, já que está em causa a venda de um terreno com uma localização excecional - com acesso, também, pelas "traseiras" da casa, através da Rua de Gondarém, n.º 729 - não possuindo o imóvel qualquer estatuto legal de proteção, o que abre portas a muitos desfechos... Com efeito, em 2008 foi encerrado o respetivo processo de apreciação com vista à eventual classificação da casa por parte do IPPAR / IGESPAR, determinando-se assim, definitivamente, a sua situação de incontornável vulnerabilidade. Como se não bastasse a flagrante descaracterização da sua imediata envolvente... 
Perspetiva do torreão da casa, definindo
o seu 4.º piso, de planta quadrada. 
Perspetiva do emblemático relógio de sol,
implantado no ângulo sul do torreão.

Perspetiva da guarda do alpendre, em pedra talhada, no 1.º piso. 

Pormenor de um dos vários painéis de azulejos (em azul e branco) que
a casa exibe, com motivos alusivos à temática dos Descobrimentos. 
Perspetiva do acesso à casa pela Rua de Gondarém: um
discreto portão e um estreito logradouro, conduzindo
até ao imóvel  implantado à face da Avenida do Brasil. 

5 comentários:

  1. Caríssimo,

    Que é que faz esse IPPAR / IGESPAR, pois parece ser parcial nas suas apreciações para classificação dos patrimónios. Não age a expensas próprias, eu que o diga ao tentar classificar a Mala Posta e envolvimento de Olival Basto / Odivelas.
    Um abraço. Estou em http://cumpriraterra.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Prezado Amigo,
      desde já agradeço o interesse manifestado e o comentário aqui deixado. Tenho por princípio acreditar (serei ingénuo, talvez, dirão muitos...) na competência, imparcialidade e sentido de missão dos responsáveis dos serviços públicos. Cumpre a cada cidadão, todavia, estar atento ao que o rodeia, exigir (...) e, não raras vezes, mobilizar os demais para as causas consideradas justas e meritórias. Saibamos fazê-lo eficazmente.
      Abraço.

      Eliminar
  2. Bom dia,

    Alguém aí de perto, pode-me confirmar se é possível entrar nessa casa? Sou fotografo e gostaria de obter registo do interior dessas casa.

    ResponderEliminar
  3. Ola, é possivel saber o porque da IPPAR/IGESPAR desqualificou o edifico?

    ResponderEliminar