Arte e Natureza no espaço urbano

Arte e Natureza no espaço urbano

terça-feira, 24 de junho de 2014

Sobre o S. João, festa maior do Porto

Cartaz oficial das Festas da
Cidade (Porto) 2010, CMP. 
As festas sanjoaninas estão aí, de novo. 
Ano após ano, estas parecem ser das poucas festas populares que resistem ao correr dos tempos e, sobretudo, às múltiplas alterações associadas à expansão do modo de vida urbano, com tudo o que daí advém no âmbito da adulteração e/ou desaparecimento de algumas tradições locais, de natureza e expressão diversas. 
Longe vão os tempos, no entanto, em que a noite sanjoanina era, sobretudo, marcada pela animação proporcionada pelas numerosas rusgas (mais ou menos organizadas e bairristas) que percorriam a cidade até ao nascer do sol; pelo alho-porro, usado para bater na cabeça das pessoas que se cruzavam nas ruas apinhadas de gente; pelos ramos de cidreira (agradavelmente perfumados), mais usados pelas mulheres, para "provocarem" os homens, tocando-lhes graciosamente com eles no rosto; pelas múltiplas fogueiras, animando a noite fria e húmida e desafiando os mais corajosos a saltarem-lhes por cima, escapando incólumes às altas labaredas ou, ainda, pelo ritual aconchegante de comer pão quente (acabado de fazer) com manteiga, acompanhado de café com leite, às primeiras horas da madrugado do dia 25 de junho. 
Sim, os tempos mudaram... 
Felizmente, os festejos de S. João - e, em particular, os da noite do dia 24 - mantêm, ainda, muitos dos seus (outros) elementos mais característicos: o lançamento de balões de ar quente, sob a orientação de "técnicos experimentados" ou de "ajudantes de ocasião"...; as ruas enfeitadas e coloridas, seja por ação do Município, seja pela iniciativa dos seus mais dinâmicos e orgulhosos moradores; os bailaricos populares, "convidando" todos os foliões para um animado "pé de dança" com parceiros regulares ou "nem por isso"; o deslumbramento proporcionado pelo lançamento de diversos fogos de artifício, colorindo os céus da cidade; os vasos com manjerico, ostentando pequenas quadras populares escolhidas a preceito; as cascatas, quais "presépios estivais", expondo com apreciável rigor e mestria elementos diversos das paisagens rurais e urbanas ou, ainda, a sardinha assada, os pimentos, a boroa e o caldo verde, acompanhados de bom vinho tinto, numa perfeita combinação de sabores... 
Os anos 60 do século XX, por sua vez, trouxeram a "praga" dos martelinhos de plástico, tornados ícone da modernidade sanjoanina e "fazendo a alegria" dos mais novos. E temos (?) de (con)viver com isso, creio.
Atualmente, o S. João faz-se de um pouco de tudo isto...
...Espero que por muito tempo.
Por hoje, deixo-vos com uma imagem de S. João, numa representação "algo distante" daquelas a que estamos mais habituados a ver por esta ocasião. Simplesmente, porque gostei dela. 
Voltarei ao tema, seguramente... 
São João Baptista. Obra de Diogo de Contreiras.
Óleo sobre madeira de carvalho. Escola Portuguesa, circa 1550.
Coleção do Museu de Évora. 

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